domingo, 23 de janeiro de 2011

Textos de Ruth Rocha

Postado por Érica às 17:17

Textos de Ruth Rocha

MEUS LÁPIS DE COR SÃO SÓ MEUS


A Lulu estava muito contente naquele dia.
É que era o dia do aniversário dela.
Quando ela chegou da escola já encontrou a mamãe preparando a festa.
O bolo já estava pronto, os brigadeiros, as balas e os pirulitos.
O papai estava enchendo as bolas e a tia Mari estava botando a mesa na sala.
Todos almoçaram na cozinha para não atrapalhar as arrumações.
Então Lulu tomou banho e vestiu sua roupa nova, que a mamãe tinha comprado para ela. E se arrumou toda e a mamãe botou nela um pouquinho de água de colônia.
O primeiro convidado que chegou foi o priminho da Lulu, o Miguel.
Depois chegou a Taís, o Arthur e o Caiã e todos os colegas do colégio.
E ficaram todos brincando no jardim.
Aí todos entraram para abrir os presentes.
Depois foram soprar as velinhas e cantar parabéns.
Lulu gostou de todos os presentes, mas o que ela mais gostou foi da caixa grande de lápis de cor que se abria feito uma sanfona e que tinha todas, mas todas as cores, mesmo.
Depois que todos foram embora a Lulu foi dormir e ela até botou a caixa de lápis de cor do lado da caminha dela.
Então, logo de manhã, a Lulu já se sentou na mesa da sala, pegou o bloco grande de desenho e começou a fazer um desenho bem bonito, com seus novos lápis. Aí chegou o Miguel, que veio passar o dia com ela.
Ele se sentou junto da Lulu e disse que também queria desenhar.
Mas Lulu não quis nem por nada emprestar os lápis a ele.
- Os meus lápis de cor são só meus! – ela disse.
A mãe de Lulu ficou zangada:
- Que é isso, minha filha? Os dois podem desenhar muito bem. Empreste os lápis para o seu primo!
Mas o Miguel já estava enjoado dessa conversa, e foi para fora andar de bicicleta.
A Lulu desenhou casinhas e desenhou bonecas e desenhou um pato e um elefante. E pintou todos os desenhos com seus lápis novos e mostrou para a mamãe. Mamãe disse que estavam todos ótimos, mas que ela guardasse os desenhos e os lápis que ela precisava preparar a mesa para o almoço.
A Lulu juntou todos os lápis, mas, em vez de guardar na caixa, que é o melhor jeito para se guardar lápis, ela botou os lápis em cima do bloco e foi para o quarto, equilibrando tudo.
Ela foi subindo as escadas, subindo as escadas, até que já estava chegando lá em cima, quando ela perdeu o equilíbrio e deixou os lápis caírem todos escada abaixo. Os lápis rolaram pela escada e foram batendo, batendo, batendo nos degraus.
A Lulu desceu as escadas e viu que todas as pontas dos lápis estavam quebradas. Então ela começou a chorar, que os lápis estavam estragados e que nunca mais ela ia poder desenhar. O Miguel, que estava brincando lá fora, veio correndo apara ver o que tinha acontecido.
Então ele disse à Lulu:
- Não chore não, Lulu, eu vou buscar meu apontador lá em casa e eu aponto todos os seus lápis. E ele foi e logo ele chegou com o apontador.
O Miguel apontou todos os lápis da Lulu.
Então a Lulu convidou:
- Miguel, você não quer desenhar comigo?
E o Miguel veio e eles fizeram uma porção de desenhos, e o Miguel ensinou a Lulu a fazer um automóvel e a Lulu ensinou o Miguel a fazer um elefante. Aí o Miguel ensinou a Lulu a fazer um foguete que voava direitinho. E a Lulu ensinou o Miguel a recostar umas bonecas engraçadas.
E a Lulu se divertiu muito mais do que quando ela ficava desenhando sozinha...



MEU IRMÃOZINHO ME ATRAPALHA


Eu tenho um irmãozinho que se chama Pedro. A gente chama ele de Pedrinho. Ele é bem bonitinho e eu gosto muito dele. Acho que eu gosto.

Antes que ele nascesse eu vivia chateando a minha mãe pra ela me arranjar um irmãozinho. Eu até andava pra trás, porque quando uma criança anda pra trás, é porque ela vai ganhar um irmãozinho.

E fui eu que escolhi o nome dele: Pedro, que é o nome do meu melhor amigo. E no dia que ele nasceu, eu fui no hospital visitar minha mãe e meu pai botou ele no meu colo! E ele era tão pequenininho! Eu até achei que eu tinha que tomar conta dele sempre!

Mas às vezes, meu irmãozinho me atrapalha!

Ele é muito pequeno e não sabe brincar das coisas que eu sei!

E ele se mete nas minhas brincadeiras e atrapalha tudo!

E a minha mãe fica me enchendo, que ela quer que eu leve ele pra todo lugar que eu vou: pra brincar na areia, pras festas de aniversário, pra ir ao shopping com meu pai.

Quando a gente sai na rua, todo mundo fica dizendo:

“Que bonitinho!”

“Que engraçadinho!”

Eu não acho graça nenhuma, que eu quero andar depressa e ele não sabe andar depressa...

E se eu quero comprar alguma coisa a minha mãe diz:

“Você já ganhou um presente hoje! Agora é a vez do Pedrinho!”

Antigamente, meu pai me contava uma história, antes de dormir.

Mas agora, ele não quer fazer barulho, pro Pedrinho não acordar!

Então ele me leva pra sala, pra contar histórias, e eu acabo dormindo no sofá!

E os meus tios e os meus primos, quando eu chego na casa da vovó, só ficam brincando com o Pedrinho e não ligam mais pra mim...

E quando o Pedrinho fica doente? Todo mundo só quer saber dele, só manda eu ficar quieto, pra não acordar ele, e todo mundo traz presentes pra ele e esquece de me trazer presentes...

Mas no outro dia eu estava um pouquinho doente. Aí minha mãe nem foi trabalhar pra ficar comigo e a minha tia passou o dia todo me agradando e meu pai me trouxe um monte de brinquedos.

É! Aquele dia foi bom!

Também foi bom no outro dia, quando a vovó veio lá em casa, e todo mundo estava fazendo festa pro Pedrinho, e ela disse:

“Eu quero é ver o Miguel! Que eu gosto muito do Miguel!”

Aí minha avó me pegou no colo, me contou um monte de histórias e disse que eu já estava ficando muito grande e muito bonito!

Ela até falou que ela gostava de brincar comigo, porque eu sei brincar de uma porção de coisas, que o Pedrinho ainda não sabe.

E quando meu amigo veio na minha casa e disse que não queria brincar com o Pedrinho que ele era chato, eu fiquei louco da vida e disse que meu irmão não era chato, nada! Só se fosse o irmão dele!

Porque o Pedrinho é bem bacana!

Ele anda de um jeito diferente, e ele fala umas coisas engraçadas. Ele brinca comigo de carrinho e de pegador e a gente joga bola junto

E eu boto ele no carrinho de brinquedo e empurro pela casa toda, e ele ri muito e eu também.

Está certo que às vezes criança pequena atrapalha.

Mas também, às vezes, criança pequena é bem divertida!

E sabe de uma coisa?

Eu não acho que eu gosto dele.

Eu sei que eu gosto muito, muito mesmo do meu irmãozinho!



A Menina que Não Era Maluquinha



Maluquinha, eu?

Eu não! Não sou nenhuma maluquinha!

Quem me pôs esse apelido foi aquele menino de casacão e panela na cabeça.

Ele me botou esse apelido quando eu fui brincar na casa do Mauricinho.

Eu nem queria ir.

Mas a mãe dele telefonou pra minha mãe, ela disse que o Mauricinho era muito tímido e que ela queria que ele brincasse com umas crianças mais... Não sei o que ela disse, acho que ela queria que ele brincasse com umas crianças mais descoladas...

E aí minha mãe me encheu um pouco e eu acabei indo.

A gente chegou na casa do Mauricinho e foi logo almoçar.

E depois do almoço a mãe dele botou a gente pra fazer a lição.

Eu não me incomodo de fazer lição logo depois do almoço, porque eu fico logo livre.

Mas a mãe do Mauricinho começou a fazer uns discursos sobre responsabilidade e coisa e tal, que a gente já era grandinha e tinha que cumprir com os compromissos... Um saco!

Eu tô careca de saber disso!

E então eu fiz minha lição correndo e o Mauricinho ficou lá toda a vida, ele não acabava mais de fazer a lição dele.

Aí eu comecei a rodar pela casa até que encontrei um gato.

Gato não, gata. Chamava Pom-pom. Ou era Fru-fru... Ou era Bom-Bom, sei lá.

E eu peguei a gata e ela estava meio fedida.

Então eu resolvi dar um banho nela. Gato não gosta de banho, vocês sabem.

Mas meu avô tinha me contado que quando ele queria dar banho no gato ele botava o bicho dentro da banheira e ele não conseguia sair e meu avô dava banho à vontade!

Mauricinho tinha um banheiro dentro do quarto dele.

Quando eu fui chegando perto da banheira a gata arrepiou toda e eu joguei ela bem depressa lá dentro e tapei o ralo e enchi de água.

E esfreguei a gata todinha com um shampoo todo perfumado que tinha lá e eu estava achando que todo mundo ia gostar de ver a gata toda limpinha. A gata estava muito infeliz e ela miava miaaauuu... e tentava sair do banho, mas meu avô tinha razão: ela arranhava a parede da banheira, mas não conseguia sair.

Mas acho que aí caiu shampoo no olho da gata, porque ela deu um pulo e agarrou na minha roupa e conseguiu pular fora e saiu correndo, espalhando espuma de shampoo por todo lado e nisso a mãe do Mauricinho vinha chegando e levou o maior susto e caiu sentada e a gata continuou correndo e assustando todo mundo e respingando tudo de espuma.

Eu não sei quem estava mais assustado: se era o Mauricinho, a mãe dele, a gata, ou se era eu.

Eu corri atrás da gata, mas ela pulou pela janela, atravessou o jardim, saiu pela rua e eu atrás.

Só que no meio da rua estava a turma daquele menino, aquele da panela na cabeça, e a gata passou pelo meio deles todos e eu atrás!

E eles levaram o maior susto, cada um correu para um lado, e atrás de mim vinha a mãe do Mauricinho e o Mauricinho e a cozinheira e o jardineiro todos correndo e gritando e eu resolvi correr para a minha casa e me esconder lá.

Mas no dia seguinte... a escola toda já sabia da história e aquele menino, aquele da panela na cabeça começou a me chamar de maluquinha...

Mas eu não sou maluquinha, não! Só se for a vó dele!


O Menino que Quase Virou Cachorro


Miguel era um menino bacana.

Brincalhão, inteligente, amigo dos amigos.

E ele era muito amigo do Tanaka, um outro menino brincalhão, inteligente e descolado.

Os dois conversavam muito, sobre uma porção de coisas.

Um dia o Miguel disse pro Tanaka:

-Cê sabe, Tanaka, eu acho que eu sou invisível.

-Invisível? Como assim? Eu estou vendo você muito bem...

- Não – disse o Miguel – não sou invisível pra todo mundo, não. Só pros meus pais. Eles olham pra mim, mas acho que eles não me enxergam!

O Tanaka ficou espantado. E então eles combinaram que iriam à casa do Miguel só pro Tanaka ver.

No sábado, na hora do almoço Tanaka chegou, como eles tinham combinado.

Miguel abriu a porta, mandou o amigo entrar e anunciou a todos que já estavam sentados pra almoçar :

-Eu trouxe o Tanaka pra almoçar conosco!

A mãe do Miguel levantou, botou um a cadeira pro Tanaka, foi buscar um prato, um copo e os talheres.

Enquanto isso ia conversando:

-Olá, Tanaka, faz tempo que você não aparece! E sua mãe vai bem? E sua irmã, tão bonitinha, sua irmã...

Mas nem olhou pra Miguel.

Miguel sentou-se, serviu-se, comeu, e ninguém olhou pra ele. Tanaka ficou reparando.

Então o Miguel fez uma pergunta pra pai, mas ele estava prestando atenção à TV e só fez:

-Shhh...

Quando os meninos saíram o Tanaka estava espantado, mas ele disse:

-Acho que as famílias são assim mesmo. Ninguém presta atenção aos filhos...

O Miguel ainda falou:

-Pois é, quando eu saio com mau pai é ainda pior! Mau pai fala comigo como se eu fosse o cachorro “Anda!”, “Anda logo!” “Espera!” “Anda!” “Vem logo!”

Na semana seguinte Miguel saiu com o pai. E como ele tinha dito o pai só dizia “Anda!”, “Vem logo!”

Miguel foi ficando bravo.

Aí quando o pai, mais uma vez disse “Anda!” Miguel latiu:

-Au, au, au, au!

O pai olhou espantado, mas o ônibus estava chegando e eles tomaram o ônibus.

Quando desceram o pai continuou: Anda, para, espera, vem logo!

Miguel latiu outra vez:

-Au, au, au, au!

O pai olhou espantado:

-Que é isso, menino, vem!

E o Miguel:

-Au, au, au, au!

-Pára com isso! – o pai respondeu – Vem!

Miguel resolveu parar, porque achou que o pai estava ficando bravo...

Mas na outra semana havia um casamento de uma prima e o pai levou o Miguel para comprar uma roupa. Nem perguntou o que ele queria. Já foi escolhendo uma calça comprida, uma camisa, um suéter e ... uma gravata.

Miguel não falou nada, porque ninguém perguntou. Mas ele pensou: “Eu não vou botar gravata, nem morto. Eu não sou cachorro pra usar coleira...”

No dia do casamento Miguel tomou banho, se vestiu, calçou os sapatos, que também eram novos, mas não botou a gravata.

O pai dele chamou: “Vem aqui. Miguel chegou perto do pai e disse:

- Eu não quero botar gravata. Parece coleira.

O pai nem respondeu. Ele disse:

-Vem!

E foi botando a gravata no pescoço d Miguel e dando um laço e apertando o laço e o Miguel começou a uivar.

-Aúúúúúúú!

O pai ficou espantado, mas continuou a apertar o laço e a dizer:

-Fica quieto! Não se mexa!

Pare com isso!

E então o laço estava tão apertado que o Miguel não agüentou. Tacou uma mordida na mão do pai.

O pai ficou furioso, cheio de “Que é issos” e de “ Para já com issos” e de “Vam’ver, vam’veres”.

A mãe veio lá de dentro pra ver o que estava acontecendo e o Miguel disse:

-Se não querem que eu vire cachorro, não me tratem como cachorro!

O pai olhou pra mãe.

A mãe olhou pra pai.

-Que é isso – disse a mãe – ninguém trata você como cachorro!

E o Miguel respondeu:

-Então não me ponham coleira! Não me chamem “Vem”. Eu tenho nome.

O Miguel, nesse dia, foi ao casamento sem coleira... quer dizer, sem gravata.

E o Tanaka e contou que quando foi à casa do Miguel, na semana passada, os pais falavam com ele direitinho:

-Quer mais feijão, Miguel?

-Me passa a batatinha, filho?


 Borba, o gato


Borba, o gato, e Diogo, o cão, eram muito amigos.

Desde muito pequenos foram criados no mesmo quintal e, assim, foram ficando cada vez mais unidos.

Brincavam de pegador, de amarelinha e de mocinho e bandido.

Essa era a brincadeira de que eles mais gostavam.

Ás vezes, Borba era o mocinho e Diogo o bandido.

Outras vezes, era o contrário.

Vocês já ouviram falar que duas pessoas brigam como cão e gato?

Pois os nossos amigos nunca brigavam, apesar de serem realmente cão e gato.

De vez em quando, Diogo arreliava um pouquinho Borba, cantando:

- Atirei o pau no ga-to-to, mas o ga-to-to não morreu-reu-reu...

Mas o Borba nem ligava e eles continuavam amigos.

Quando chegou a hora de irem para escola, Diogo, que era um cão policial, resolveu estudar na escola da polícia.

Borba foi cantar a mãe:

- Sabe, mamãe? Eu também vou ser policial.

Dona Gata riu:

- Onde é que já se viu gato policial?

- Ora, mamãe, se existe cachorro policial, por que é que não pode haver gato policial?

Dona Gata explicou:

- Meu filho, gatos são gatos, cachorros são cachorros.

Existe gato siamês, gato angorá...existiu até aquele célebre Gato-de-Botas.

Mas gato policial, isso nunca houve.

- Mas, mamãe, só porque nunca houve não quer dizer que não possa aparecer um.

Afinal, é a minha vocação...

Diogo, todos os dias, trazia exercícios para fazer em casa:

- Hoje eu tenho que descobrir quem é que rouba o leite da casa de dona Marocas. Você quer me ajudar?

Borba sempre queria.

Mas, cada vez que ia ajudar seu amigo, arranjava uma boa trapalhada...

Mas o Borba não desistia:

- Sabe, Diogo?

Eu tenho escutado uns barulhos muito estranhos, de noite. Deve ser algum ladrão. Vamos ver se a gente pega?

E os dois saíram, de madrugada, para pegar o ladrão...

Que não era ladrão nenhum, era só o padeiro!

A mãe de Borba já estava zangada:

- Vamos acabar com esses passeios no meio da noite!

Criança precisa dormir bastante!

- Mas, mamãe, todos os gatos andam à noite pelos telhados.

- Isso são os gatos grandes. Você ainda é muito pequeno.

- Ah, mamãe, assim você atrapalha minha carreira!

E Borba continuava a treinar para policial.

E explicava a Diogo:

- Eu preciso reabilitar a raça felina.

Em todas as histórias, os ratos são bonzinhos e os gatos são malvados. Veja os desenhos animados.

Veja Tom e Jerry! É uma injustiça. Eu vou mostrar a todo mundo que os gatos são grandes homens, quer dizer, grandes gatos...

O tempo passou e Diogo recebeu seu diploma. Ganhou uma linda farda e todas as noites fazia a ronda do bairro:

- PRIIIUUUUU! PRIIIUUUUU!...

Borba ainda tinha esperanças de vir a ser um policial e por isso saía sempre com o seu amigo.

Uma noite, quando vinham passando pela casa do seu Godofredo, viram alguma coisa muito suspeita no telhado:

- O que é aquilo? – perguntou Diogo.

- Desta vez juro que é um ladrão.

- Mas eu não sei subir no telhado.

Como é que eu faço?

- Quem não tem cão caça com gato – disse o Borba.

- Deixa que eu vou.

E subiu pela calha como só os gatos sabem fazer.

Aproximou-se do ladrão por trás e ...

- MIAAAUUUUUU!

O ladrão levou tamanho susto que despencou do telhado, caindo bem em cima do Diogo.

O Borba ainda gritou:

- Cuidado, Diogo!

Se ele te pega, faz cachorro-quente!

Mas o ladrão, que era o ladrão de galinhas, estava tão assustado que não conseguiu nem fugir.

- Está preso em nome da lei! – disse Diogo, todo satisfeito, pois era o primeiro ladrão que ele prendia.

Borba vinha descendo do telhado, todo orgulhoso.

Toda a vizinhança aplaudia os dois amigos:

- Agora podemos dormir sossegados!

Diogo levou seu prisioneiro para a delegacia e explicou, direitinho, como é que tinha prendido o ladrão.

O delegado quis logo conhecer o Borba e deu a ele uma condecoração:

- Parabéns, seu Borba!

O senhor daria um grande policial!

Borba piscou para o Diogo.

E foi admitido na corporação, mesmo sem fazer o curso.

Afinal, ele já tinha dado provas de ser um bom policial.

E ganhou o cargo de guarda dos telhados.

E agora, todas as noites, enquanto Diogo vigia as ruas, Borba cuida do seu setor.

A rua deles é a mais bem guardada da cidade.

Pois tem um policial na rua e um no telhado:

Borba, o gato.


A escolinha do Mar



A escola de dona Ostra fica lá no fundo do mar.

Nesta escola, as aulas são muito diferentes.

O Dr. Camarão, por exemplo, dá aulas aos peixinhos menores:

- Um peixe inteligente presta atenção àquilo que come. Não come minhoca com anzol dentro. Nunca!

O peixe elétrico ensina a fazer foguetes:

- Quando nosso foguete ficar pronto, vamos à terra.

Os homens não vão a Lua?

E o maestro Villa-Peixes ensina aos alunos lindas canções:

“Como pode o peixe vivo

Viver fora d’ água fria...”

Os alunos desta escola não são apenas peixes.

Há, por exemplo, Estela, a pequena estrela-do-mar, tão graciosa, que é a primeira aluna da aula de balé.

Há Lulita, a pequena lula, que é a primeira em caligrafia porque já tem, dentro dela, pena e tinta.

E há o siri-patola, que só sabe andar de lado e por isso nunca acompanha a aula de ginástica.

Mas nem todos os alunos são bem-comportados.

Quando o Dr. Camarão se distrai, escrevendo na concha, Peixoto, o peixinho vermelho, solta bolhas tão engraçadas que os outros riem, riem.

O Dr. Camarão se queixa:

- Estes meninos estão ficando muito marotos, fazem estripulias nas minhas barbas!

No fim do ano, Dona Ostra, que é uma professora muito moderna, leva seus alunos para uma excursão pelo fundo do mar.

Naquele ano, os preparativos para a excursão foram animadíssimos.

Vocês sabem, o melhor da festa é esperar por ela.

Um grande ônibus foi contratado para levar os alunos e professores.

Ônibus marítimo, é claro, puxado por cavalos-marinhos.



No dia da partida, todas as mamães foram despedir-se dos filhinhos e todas faziam muitas recomendações:



- Veja lá, hein? Não vá chegar à beira do ar, e cuidado com as gaivotas!

- Meu filho, não chegue perto do peixe-elétrico quando ele estiver ligado. É muito perigoso!

- Adeus, adeus, boa viagem, aproveitem bem!



E eles aproveitaram mesmo.

Que beleza é o fundo do mar!

E como aprenderam!

- Veja, dona Ostra, que peixão tão grande, dando de mamar ao peixinho!



- Aquilo não é peixe, não, é uma baleia. As baleias são de outra família. Aparentadas com o homem. Por isso dão de mamar aos filhotes.



E aprenderam muitas outras coisas.

Viram os peixes-voadores, que davam grandes mergulhos no ar; viram os golfinhos, que são parentes das baleias, inteligentíssimos.
E os tubarões, muito emproados, que andam sempre com seus ajudantes, os peixes-pilotos.

O mais emproados de todos é o Barão Tubarão.

Mora num grande castelo de madrepérola, com seu filho, o Tubaronete.

Naquela noite, acamparam perto do castelo do Barão.

Todos ajudaram a armar o acampamento e, quando tudo ficou pronto, juntaram-se e começaram a cantar;

“Roda, roda, roda,

pé, pé, pé.

Caranguejo só é peixe

Na enchente da maré...”

Ouvindo aquela cantoria, o Tubaronete veio espiar o que havia.

Ele era um peixe muito mal-educado, não ia á escola, nem nada, era um verdadeiro “play-peixe”.

Começou a caçoar de todos, a imitar o jeito de cada um, que é uma coisa muito feia.

Dona Ostra ficou aborrecida.

- Olhe aqui, menino, se você quiser, pode ficar, mas tem que se comportar direitinho, como os outros.

Tubaronete era mesmo muito mal-educado.

Avançou para dona Ostra, vermelhinho de raiva:

- Eu não preciso de vocês, seus peixes de água doce, seus peixes de lata!

E arrancou a pérola de dona Ostra e fugiu, espirrando água para todos os lados.

Dona Ostra se pôs a chorar:

- Ai, minha pérola! Como é que vou passar sem ela? Já estava tão acostumada...

- Ah, dona Ostra, não se aflija, não - disse Peixoto, que, apesar de pequenininho, era muito valente.

- Eu vou já ao castelo buscar a pérola. Se ele não devolver, falo com o pai dele!

Dona Ostra empalideceu:

- Ai, não vai não! Eu tenho tanto medo de tubarão, ainda mais de tubarão barão.

- Eu vou, sim. Se a gente ficar de braços cruzados, sua pérola não volta nunca mais.

Chegando ao palácio do Barão, Peixoto bateu as barbatanas com toda a força:

PLAC, PLAC, PLAC!

Veio atender ao portão uma senhora enguia, de uniforme preto e touquinha branca na cabeça.

- Boa noite, dona Cobra, diga ao Tubaronete que aqui está o Peixoto, que quer falar com ele sem demora – disse o peixinho.

- Cobra, não! Dobre a língua, ouviu? Meus patrões não têm tempo a perder com senhores Peixotos...

E foi entrando, sem querer escutar o que Peixoto estava dizendo.

Mas Peixoto não desanimou.

Rodeou a casa até que encontrou uma janela meio aberta e foi entrando, mesmo sem convite.

Lá estavam o Barão e o Tubaronete jantando.

Peixoto, com o coração batendo muito, adiantou-se:

- Desculpe, seu Barão, eu ir entrando assim, mas tenho umas contas a ajustar aqui com o seu filho. Cadê a pérola de dona Ostra? Devolva já, já!

Tubaronete até engasgou de susto:

- Eu ia devolver, eu ia, sim! Tome a pérola, eu estava brincando...

O Barão Tubarão levantou-se, furioso:

- De que é que vocês estão falando? Pelo que vejo, o senhor meu filho já aprontou mais uma das suas! É a vergonha da família Tubarão!

Vou-lhe aplicar um castigo tremendo!

Peixoto ficou com pena de Tubaronete:

- Olhe, seu Barão, eu acho que o Tubaronete é assim, por que ele não sabe nada. Por que é que ele não vai á escola como os outros peixes?

O Barão não disse nada, mas, no ano seguinte, Tubaronete foi o primeiro aluno que se matriculou na escola de dona Ostra.

Faz muito tempo que essa história se passou.

Tubaronete já não é mais aquele peixe sem educação que era naquele tempo.

Ele, agora, é aluno de dona Ostra, dos mais aplicados.

É ele quem apaga a concha para os professores, e é agora o melhor amigo do Peixoto.

Os dois combinaram que, quando se formarem, vão ser sócios.

Vão fundar uma grande agência de turismo, para fazerem sempre outras viagens pelo fundo do mar.



Faz muito tempo


Foi em 1500, em Portugal, do outro lado do mar.
Havia um menino chamado Pedrinho.
E havia o mar.
Pedrinho amava o mar.
Pedrinho queria ser marinheiro.
Tinha alma de aventureiro.
Perguntava sempre para o pai:
- O que é que há do outro lado do mar?
O pai sacudia a cabeça:
- Ninguém sabe, meu filho, ninguém sabe...
Naquele tempo, ninguém sabia o que havia do outro lado do mar.
Um dia, o padrinho de Pedrinho chegou.
O padrinho de Pedrinho era viajante.
Chegou da Índias.
Trouxe de suas viagens coisas que as pessoas nunca tinham visto...
Roupas bordadas de lindas cores...
Doces de gostos diferentes...
E os temperos, que mudavam o gosto da comida?
E as histórias que ele contava?
De castelos, de marajás, de princesas, de tesouros...
Pedrinho ouvia, ouvia e não se cansava de ouvir.
Até que o padrinho convidou:
- Ó menino, tu queres ser marinheiro?
Pedrinho arregalou os olhos.
- Não tens medo, ó Pedrinho?
Pedrinho bem que tinha medo.
Mas respondeu:
- Que nada, padrinho, homem não tem medo de nada.
- Pois, se teu pai deixar, embarcamos na semana que vem.
- Pra onde, padrinho?
- Para o outro lado do mar, Pedrinho.
Quando chegaram ao porto, que beleza!
Quantas caravelas, de velas tão brancas!
Pedrinho nunca tinha visto tantos navios juntos.
- Quantos navios, padrinho! Para onde vão?
- Pois vão conosco, Pedrinho, vão atravessar o mar.
Pedrinho embarcou.
No dia da partida houve grandes festas.
Pedrinho viu, do seu navio, quando o rei, Dom Manoel, se despediu do chefe da expedição, Pedro Álvares Cabral.
E esperaram chegar o vento. E quando o vento chegou, as velas se enfunaram e os navios partiram.
E a grande viagem começou.
Pedrinho gostou logo do seu trabalho.
Para Pedrinho, era o mais bonito de todos.
Ficar lá em cima do mastro mais alto, numa cestinha, e ir avisando tudo o que via.
Aprendeu logo as palavras diferentes que os marujos usavam e, logo que havia alguma coisa, gritava, muito importante:
- Nau capitânia a bombordo...
- Baleias a estibordo...
Depois de alguns dias, Pedrinho viu ao longe as ilhas Canárias, mais tarde, as ilhas de Cabo Verde.
E depois não se viu mais nenhuma terra.
Somente céu e mar, mar e céu.
E peixes, que pulavam fora da água, como se voassem.
E baleias, que passavam ao longe, espirrando colunas de água.
Pedrinho viu noites de lua, quando o mar parecia um espelho.
E noites de tempestade, quando as ondas, enormes, pareciam querer engolir o navio.
E dias de vento, e dias de calmaria.
Até que um dia...
Até que um dia, boiando sobre as águas, Pedrinho avistou alguma coisa.
O que seria?
Folhas, galhos, parecia.
De repente, uma gaivota, voando seu vôo branco contra o céu.
Pedrinho sabia o que isso queria dizer:
- Sinais de terra!!!
Todos vieram olhar e houve grande alegria.
- Sinais de terra!!!
E todos trabalharam com mais vontade.
Até que, no outro dia, Pedrinho avistou, ao longe, o que parecia um monte.
E gritou o aviso tão esperado:
- Terra à vista!
E como era o dia da Páscoa, o monte recebeu o nome de Monte Pascoal.
E no outro dia chegaram mais perto e viram.
A praia branca, a mata fechada...
- Deve ser uma ilha – diziam todos.
Pedrinho, lá do alto, enxergava melhor:
- A praia está cheia de gente...
Os navios procuraram um lugar abrigado e lançaram suas âncoras.
E esse lugar se chamou Porto Seguro.
E Pedrinho viu o que havia do outro lado do mar.
Era uma terra de sol, terra de matas, terra de mar...
Do outro lado do mar viviam pessoas.
Homens, mulheres, meninos, meninas.
Todos muito morenos, enfeitados de penas, pintados de cores alegres: índios.
Viviam pássaros de todas as cores.
Cobras de todos os tamanhos.
Feras de todas as bravezas.
Do outro lado do mar viviam meninos índios que pensavam:
- O que é que existe do outro lado do mar?
Pedrinho conheceu os meninos e ficaram logo amigos.
Mas uns não entendiam o que os outros diziam.
Pedrinho dizia:
- Menino.
O menino índio respondia:
- Curumim.
Pedrinho dizia:
_Menino moreno.
O indiozinho respondia:
- Curumim-tinga.
E o indiozinho queria dizer:
- Menino branco.
Pedrinho levou uma galinha para os índios verem.
Os índios tiveram medo.
Mas, depois, gostaram da galinha e quiseram ficar com ela.
Pedrinho deu a galinha aos meninos.
Os meninos deram a Pedrinho uma ave engraçada que dizia:
- Arara... Arara... – e era verde e amarela.
Pedrinho disse:
- Vou chamar este pássaro de 22 de abril, porque foi o dia em que nós chegamos.
A terra ficou se chamando Ilha de Vera Cruz.
Porque todo mundo pensava que era uma ilha.
Depois, os portugueses levantaram na praia uma grande cruz e rezaram uma missa.
Os índios não sabiam o que era missa, mas acharam bonito.
E faziam todos os movimentos e gestos dos portugueses.
E, depois, as caravelas tiveram que partir para as Índias, mas uma voltou para Portugal...
Para contar ao rei Dom Manuel, o Venturoso, as aventuras que tinham vivido: as histórias da linda terra descoberta por Pedro Álvares Cabral.
E Pedrinho, do alto do mastro, deu adeus aos seus amigos índios.
Levava como lembrança a arara.
E pensava:
- Quando eu crescer, eu vou voltar para ficar morando aqui.
E foi o que aconteceu.
Um dia, Pedrinho voltou para a terra descoberta.
E a terra era a mesma, mas seu nome tinha mudado.
O novo nome era Brasil.
E foi no Brasil que Pedrinho viveu feliz por muitos e muitos anos...


O que os olhos não vêem


Havia uma vez um rei

num reino muito distante,

que vivia em seu palácio

com toda a corte reinante.

Reinar pra ele era fácil,

ele gostava bastante.



Mas um dia, coisa estranha!

Como foi que aconteceu?

Com tristeza do seu povo

nosso rei adoeceu.

De uma doença esquisita,

toda gente, muito aflita,

de repente percebeu...



Pessoas grandes e fortes

o rei enxergava bem.

Mas se fossem pequeninas,

e se falassem baixinho,

o rei não via ninguém.



Por isso, seus funcionários

tinham de ser escolhidos

entre os grandes e falantes,

sempre muito bem nutridos.

Que tivessem muita força,

e que fossem bem nascidos.

E assim, quem fosse pequeno,

da voz fraca, mal vestido,

não conseguia ser visto.

E nunca, nunca era ouvido.



O rei não fazia nada

contra tal situação;

pois nem mesmo acreditava

nessa modificação.

E se não via os pequenos

e sua voz não escutava,

por mais que eles reclamassem

o rei nem mesmo notava.



E o pior é que a doença

num instante se espalhou.

Quem vivia junto ao rei

logo a doença pegou.

E os ministros e os soldados,

funcionários e agregados,

toda essa gente cegou.



De uma cegueira terrível,

que até parecia incrível

de um vivente acreditar,

que os mesmos olhos que viam

pessoas grandes e fortes,

as pessoas pequeninas

não podiam enxergar.



E se, no meio do povo,

nascia algum grandalhão,

era logo convidado

para ser o assistente

de algum grande figurão.

Ou senão, pra ter patente

de tenente ou capitão.

E logo que ele chegava,

no palácio se instalava;

e a doença, bem depressa,

no tal grandalhão pegava.



Todas aquelas pessoas,

com quem ele convivia,

que ele tão bem enxergava,

cuja voz tão bem ouvia,

como num encantamento,

ele agora não tomava

o menor conhecimento...



Seria até engraçado

se não fosse muito triste;

como tanta coisa estranha

que por esse mundo existe.



E o povo foi desprezado,

pouco a pouco, lentamente.

Enquanto que próprio rei

vivia muito contente;

pois o que os olhos não vêem,

nosso coração não sente.



E o povo foi percebendo

que estava sendo esquecido;

que trabalhava bastante,

mas que nunca era atendido;

que por mais que se esforçasse

não era reconhecido.



Cada pessoa do povo

foi chegando á convicção,

que eles mesmos é que tinham

que encontrar a solução

pra terminar a tragédia.

Pois quem monta na garupa

não pega nunca na rédea!



Eles então se juntaram,

Discutiram, pelejaram,

E chegaram à conclusão

Que, se a voz de um era fraca,

Juntando as vozes de todos

Mais parecia um trovão.



E se todos, tão pequenos,

Fizessem pernas de pau,

Então ficariam grandes,

E no palácio real

Seriam logo avistados,

Ouviriam os seus brados,

Seria como um sinal.



E todos juntos, unidos,

fazendo muito alarido

seguiram pra capital.

Agora, todos bem altos

nas suas pernas de pau.

Enquanto isso, nosso rei

continuava contente.

Pois o que os olhos não vêem

nosso coração não sente...



Mas de repente, que coisa!

Que ruído tão possante!

Uma voz tão alta assim

só pode ser um gigante!

- Vamos olhar na muralha.

- Ai, São Sinfrônio, me valha

neste momento terrível!

Que coisa tão grande é esta

que parece uma floresta?

Mas que multidão incrível!



E os barões e os cavaleiros,

ministros e camareiros,

damas, valetes e o rei

tremiam como geléia,

daquela grande assembléia,

como eu nunca imaginei!



E os grandões, antes tão fortes,

que pareciam suportes

da própria casa real;

agora tinham xiliques

e cheios de tremeliques

fugiam da capital.



O povo estava espantado

pois nunca tinha pensado

em causar tal confusão,

só queriam ser ouvidos,

ser vistos e recebidos

sem maior complicação.



E agora os nobres fugiam,

apavorados corriam

de medo daquela gente.

E o rei corria na frente,

dizendo que desistia

de seus poderes reais.

Se governar era aquilo

ele não queria mais!



Eu vou parar por aqui

a história a que estou contando.

O que se seguiu depois

cada um vá inventando.

Se apareceu novo rei

ou se o povo está mandando,

na verdade não faz mal.

Que todos naquele reino

guardam muito bem guardadas

as suas pernas de pau.



Pois temem que seu governo

possa cegar de repente.

E eles sabem muito bem

que quando os olhos não vêem

nosso coração não sente.









O que os olhos não vêem



Havia uma vez um rei

num reino muito distante,

que vivia em seu palácio

com toda a corte reinante.

Reinar pra ele era fácil,

ele gostava bastante.



Mas um dia, coisa estranha!

Como foi que aconteceu?

Com tristeza do seu povo

nosso rei adoeceu.

De uma doença esquisita,

toda gente, muito aflita,

de repente percebeu...



Pessoas grandes e fortes

o rei enxergava bem.

Mas se fossem pequeninas,

e se falassem baixinho,

o rei não via ninguém.



Por isso, seus funcionários

tinham de ser escolhidos

entre os grandes e falantes,

sempre muito bem nutridos.

Que tivessem muita força,

e que fossem bem nascidos.

E assim, quem fosse pequeno,

da voz fraca, mal vestido,

não conseguia ser visto.

E nunca, nunca era ouvido.



O rei não fazia nada

contra tal situação;

pois nem mesmo acreditava

nessa modificação.

E se não via os pequenos

e sua voz não escutava,

por mais que eles reclamassem

o rei nem mesmo notava.



E o pior é que a doença

num instante se espalhou.

Quem vivia junto ao rei

logo a doença pegou.

E os ministros e os soldados,

funcionários e agregados,

toda essa gente cegou.



De uma cegueira terrível,

que até parecia incrível

de um vivente acreditar,

que os mesmos olhos que viam

pessoas grandes e fortes,

as pessoas pequeninas

não podiam enxergar.



E se, no meio do povo,

nascia algum grandalhão,

era logo convidado

para ser o assistente

de algum grande figurão.

Ou senão, pra ter patente

de tenente ou capitão.

E logo que ele chegava,

no palácio se instalava;

e a doença, bem depressa,

no tal grandalhão pegava.



Todas aquelas pessoas,

com quem ele convivia,

que ele tão bem enxergava,

cuja voz tão bem ouvia,

como num encantamento,

ele agora não tomava

o menor conhecimento...



Seria até engraçado

se não fosse muito triste;

como tanta coisa estranha

que por esse mundo existe.



E o povo foi desprezado,

pouco a pouco, lentamente.

Enquanto que próprio rei

vivia muito contente;

pois o que os olhos não vêem,

nosso coração não sente.



E o povo foi percebendo

que estava sendo esquecido;

que trabalhava bastante,

mas que nunca era atendido;

que por mais que se esforçasse

não era reconhecido.



Cada pessoa do povo

foi chegando á convicção,

que eles mesmos é que tinham

que encontrar a solução

pra terminar a tragédia.

Pois quem monta na garupa

não pega nunca na rédea!



Eles então se juntaram,

Discutiram, pelejaram,

E chegaram à conclusão

Que, se a voz de um era fraca,

Juntando as vozes de todos

Mais parecia um trovão.



E se todos, tão pequenos,

Fizessem pernas de pau,

Então ficariam grandes,

E no palácio real

Seriam logo avistados,

Ouviriam os seus brados,

Seria como um sinal.



E todos juntos, unidos,

fazendo muito alarido

seguiram pra capital.

Agora, todos bem altos

nas suas pernas de pau.

Enquanto isso, nosso rei

continuava contente.

Pois o que os olhos não vêem

nosso coração não sente...



Mas de repente, que coisa!

Que ruído tão possante!

Uma voz tão alta assim

só pode ser um gigante!

- Vamos olhar na muralha.

- Ai, São Sinfrônio, me valha

neste momento terrível!

Que coisa tão grande é esta

que parece uma floresta?

Mas que multidão incrível!



E os barões e os cavaleiros,

ministros e camareiros,

damas, valetes e o rei

tremiam como geléia,

daquela grande assembléia,

como eu nunca imaginei!



E os grandões, antes tão fortes,

que pareciam suportes

da própria casa real;

agora tinham xiliques

e cheios de tremeliques

fugiam da capital.



O povo estava espantado

pois nunca tinha pensado

em causar tal confusão,

só queriam ser ouvidos,

ser vistos e recebidos

sem maior complicação.



E agora os nobres fugiam,

apavorados corriam

de medo daquela gente.

E o rei corria na frente,

dizendo que desistia

de seus poderes reais.

Se governar era aquilo

ele não queria mais!



Eu vou parar por aqui

a história a que estou contando.

O que se seguiu depois

cada um vá inventando.

Se apareceu novo rei

ou se o povo está mandando,

na verdade não faz mal.

Que todos naquele reino

guardam muito bem guardadas

as suas pernas de pau.



Pois temem que seu governo

possa cegar de repente.

E eles sabem muito bem

que quando os olhos não vêem

nosso coração não sente.


A Arca de Noé


Esta história é muito,

Muito antiga.

Eu li

Num livrão grande do papai,

Que se chama Bíblia.

É a história de um homem chamado Noé.

Um dia, Deus chamou Noé.

E mandou que ele construísse

Um barco bem grande.

Não sei por quê,

Mas todo mundo chama esse barco

De Arca de Noé.

Deus mandou

Que ele pusesse dentro do barco

Um bicho de cada qualidade.

Um bicho, não. Dois.

Um leão e uma leoa...

Um macaco e uma macaca...

Um caititu e uma caititoa...

Quer dizer, caititoa não,

Que eu nem sei se isso existe.

E veio tudo que foi bicho.

Girafa, com um pescoço

Do tamanho de um bonde...

Tinha tigre de bengala.

Papagaio que até fala.

E tinha onça-pintada.

Arara dando risada,

Que era ver uma vitrola!

E um casal de tatu-bola...

Bicho d´água, isso não tinha,

Nem tubarão, nem tainha,

Procurando por abrigo.

Nem peixe-boi nem baleia,

Nem arraia nem lampreia,

Que não corriam perigo...

E zebra, que parece cavalo de pijama...

E pavão, que parece um galo

Fantasiado pra baile de carnaval.

E cobra, jacaré, elefante...

E paca, tatu e cutia também.

E passarinho de todo jeito.

Curió, bem-te-vi, papa capim...

E inseto de todo tamanho.

Formiga, joaninha, louva-a-deus...

Eu acho que Noé

Devia Ter deixado fora

Tudo que é bicho enjoado,

Como pulga, barata r pernilongo,

Que faz fiuuummm no ouvido da gente.

Mas ele não deixou.

Levou tudo que foi bicho.

Tinha peru, tinha pato.

Tinha vespa e carrapato.

Avestruz, carneiro, pinto...

Tinha até ornitorrinco.

Urubu, besouro, burro.

Gafanhoto, grilo, gato.

Tinha abelha, tinha rato...

Quando a bicharada

Estava toda embarcada,

E mais a família do Noé todinha,

Começou a cair uma chuvarada.

Mas não era uma chuvarada

Dessas que caem agora.

Você já viu uma cachoeira?

Pois era igualzinho

A uma cachoeira caindo,

Caindo, que não acabava mais.

Parecia o Rio Amazonas despencando.

E aquela água foi cobrindo tudo, tudo.

Cobriu as terras, cobriu as plantas, cobriu as árvores, cobriu as montanhas.

Só mesmo a Arca de Noé, que boiava em cima das águas, é que não ficou coberta.

E mesmo depois

Que passou a tempestade

Ficou tudo coberto de água.

E passou muito tempo.

Todo mundo estava enjoado

De ficar preso dentro da Arca,

Sem poder sair nem um bocadinho.



Os bichos até começaram a brigar.

Que nem criança,

Que fica muito tempo dentro de casa

E já começa a implicar com os irmãos.

O gato e o rato

Começaram a brigar nesse tempo

E até hoje não fizeram as pazes.

Até que um dia...

Veio vindo um ventinho lá de longe.

E as águas começaram a baixar.

E foram baixando, baixando...

E Noé teve uma idéia.

Mandou o pombo

Dar uma volta lá fora

Para ver como estavam as coisas.

Os pombos são ótimos para isso.

Eles sabem ir e voltar dos lugares,

Sem se perder, nem nada.

Por isso é que Noé escolheu o pombo

Para esse trabalho.

O pombo foi e voltou

Com uma folhinha no bico.

E Noé ficou sabendo

Que as terras já estavam aparecendo.

E as águas foram baixando

Mais e mais...

Então a Arca pousou

Sobre um monte.

E todo mundo pôde sair

E todo mundo ficou contente.

E todos se abraçaram

E cantaram.

E Deus pendurou no céu

Um arco colorido,

Todo de listras.

E esse arco queria dizer

Que Deus era amigo dos homens,

E que nunca mais

Ia chover assim na terra.

Você já viu, depois da chuva,

O arco-íris redondinho no céu?

Pois é pra sossegar a gente.

Pra gente nunca mais

Ter medo da chuva!




Pra vencer certas pessoas



Uma vez um vaqueiro por nome de Pedro se empregou num convento de irmãos. De tanto lidar com os frades, Pedro foi ficando muito amigo deles.
De todos os irmãos, Pedro gostava mais era de frei Damião, o mais sábio de quantos sábios havia no convento.
Frei Damião sabia da chuva e sabia do sol.
Sabia das colheitas e das semeaduras.
Sabia de histórias de reis e de rainhas, de cavaleiros e damas, de castelos e de dragões. Frei Damião sabia de tudo!
A fama do frade acabou chegando no palácio do rei.
E o rei ficou curioso para conhecer frei Damião.
E mandou chamá-lo, porque queria lhe fazer três perguntas.
Os reis, antigamente, parece que não tinham nada para fazer.
Então eles gostavam muito dessas histórias de fazer perguntas pra ver se as pessoas sabiam as respostas. Perguntavam umas perguntas muito sem jeito, que ninguém entendia direito. E se as pobres vítimas não sabiam responder, tome castigo!
Frei Damião foi se preparando para ir falar com o rei.
Mas Pedro estava com muito medo:
- Frei Damião – ele disse – o senhor não devia de ir, não. Eu sou um roceiro, muito do ignorante, mas eu conheço esses reis. Eles querem perguntar umas bobagens pro senhor. E se o senhor não responder do jeitinho que eles gostam, o senhor está perdido!
- Que é isso, meu filho? – o frei espantou-se. - Eu só posso responder ao rei as coisas que eu sei. E quem diz a verdade não merece castigo! Todo mundo sabe!
- Todo mundo, menos o rei! Essa gente poderosa não quer ouvir a verdade, não! O que eles querem é uma mentirinha bonitinha, engraçadinha, que agrade a eles. Sabe de uma coisa, frei? Eu é que vou no seu lugar! O rei não conhece o senhor. Ninguém na corte conhece o senhor. Eu me disfarço de frade e vou. Garanto que vou saber as respostas que o rei quer.
Frei Damião não permitiu de jeito nenhum que Pedro fosse. Mas, de madrugada, Pedro saiu bem de mansinho, sem que ninguém visse, e foi para a corte vestido de frade.
O rei recebeu Pedro muito bem e nem desconfiou de nada:
- Muito bem, frei Damião, está pronto para responder às minhas perguntas?
Pedro fez que sim com a cabeça.
Então o rei começou:
- Está vendo aquele morro, detrás do meu palácio?
Pedro olhou pela janela e viu.
-Pois me diga, meu bom frade, quantos cestos são precisos para carregar toda aquela terra para o outro lado do palácio?
Pedro fingiu que estava pensando, mas por dentro ele estava era rindo:
- Depende, Majestade!
- Depende de quê, frei Damião?
- Pois depende do tamanho do cesto, Majestade. Se o cesto for do tamanho do morro, basta um. Se for a metade do morro, é preciso dois.
O rei ficou embasbacado. Nunca ninguém tinha conseguido responder àquela pergunta. Mas ele não podia responder que estava errado. Então pensou, e tornou a perguntar:
- Pois me diga lá, meu bom irmão, onde é que fica o centro do universo?
Pedro sabia muito bem que ninguém tinha idéia de que tamanho era o universo, quanto mais onde era o centro...
Mas ele sabia, também, que os reis são muito convencidos e acham que são a coisa mais importante do mundo.
Então Pedro, muito sem-vergonha, respondeu:
- Ora, meu rei, essa pergunta é fácil! Todo mundo sabe que o centro do universo é onde está sua Majestade...
O rei ficou todo prosa pela resposta de Pedro e começou a achar que aquele fradinho era muito sabido, mesmo. E ele veio com a pergunta mais difícil de todas:
- Vamos lá, me responda, frei Damião, o que é que eu estou pensando?
No que o rei perguntou, Pedro coçou a cabeça, olhou de lado pro rei e mandou:
- Vossa Majestade está pensando que eu sou o frei Damião, mas sou é o vaqueiro dele.
Foi uma risada só. Todos na corte acharam tanta graça que o rei não teve outro remédio senão rir também.
E deu a Pedro uma porção de presentes e mandou que ele fosse em paz.
Quando Pedro chegou ao convento, encontrou todo mundo muito preocupado.
Frei Damião já estava se preparando para ir atrás dele.
- Que é que houve, homem? Eu já estava ficando assustado com a sua demora.
Pedro sorriu, passou a mão na sua violinha e começou a cantar:
“Quem possui muito poder
Abusa de toda gente.
Por isso, a gente que é fraco,
Tem de ser inteligente...
Não adianta ter razão,
Não adianta estar certo.
Pra vencer certas pessoas
É preciso ser esperto!”



As Coisas que a Gente Fala

As coisas que a gente fala

saem da boca da gente

e vão voando, voando,

correndo sempre pra frente.

Entrando pelos ouvidos

de quem estiver presente.

Quando a pessoa presente

É pessoa distraída

Não presta muita atenção.

Então as palavras entram

E saem pelo outro lado

Sem fazer complicação.

Mas ás vezes as palavras

Vão entrando nas cabeças,

Vão dando voltas e voltas,

Fazendo reviravoltas

E vão dando piruetas.

Quando saem pela boca

Saem todas enfeitadas.

Engraçadas, diferentes,

Com palavras penduradas.

Mas depende das pessoas

Que repetem as palavras.

Algumas enfeitam pouco.

Algumas enfeitam muito.

Algumas enfeitam tanto,

Que as palavras - que

Engraçado!

- nem parece as palavras

que entraram pelo outro

lado.

E depois que elas se espalham,

Por mais que a gente procure,

Por mais que a gente recolha,

Sempre fica uma palavra,

Voando como uma folha,

Caindo pelos quintais,

Pousando pelos telhados,

Entrando pelas janelas,

Pendurada nos beirais.

Por isso, quando falamos,

Temos de tomar cuidado.

Que as coisas que a gente fala

Vão voando, vão voando,

E ficam por todo lado.

E até mesmo modificam

O que era nosso recado.

Eu vou contar pra vocês

O que foi que aconteceu,

No dia em que a Gabriela

Quebrou o vaso da mãe dela

E acusou o Filisteu.

- Quem foi que quebrou meu vaso?

Meu vaso de ouro e laquê,

Que eu conquistei no concurso,

No concurso de crochê?

- Quem foi que quebrou seu vaso?

- a Gabriela respondeu

- quem quebrou seu vaso foi...

o vizinho, o Filisteu.

Pronto! Lá vão as palavras!

Vão voando, vão voando...

Entrando pelos ouvidos

De quem estiver passando.

Então entram pelo ouvido

De dona Felicidade:

- o Filisteu? Que bandido!

que irresponsabilidade!

As palavras continuam

A voar pela cidade.

Vão entrando nos ouvidos

De gente de toda idade.

E aquilo que era mentira

Até parece verdade...

Seu Golias, que é vizinho

De dona Felicidade,,

E que é o pai do Filisteu,

Ao ouvir que o filho seu

Cometeu barbaridade,

Fica danado da vida,

Invente logo um castigo,

Sem tamanho, sem medida!

Não tem mais festa!

Não tem mais coca-cola!

Não tem TV!

Não tem jogo de bola!

Trote no telefone?

Nem mais pensar!

Isqueite? Milquicheique??

Vão acabar!

Filisteu, que já sabia

Do que tinha acontecido,

Ficou muito chateado!

Ficou muito aborrecido!

E correu logo pro lado,

Pra casa de Gabriela:

- Que papelão você fez!

Me deixou em mal estado,

Com essa mentira louca

Correndo por todo lado.

Você tem que dar um jeito!

Recolher essa mentira

Que em deixa atrapalhado!

Gabriela era levada,

Mas sabia compreender

As coisas que a gente pode

E as que não pode fazer;

E a confusão que ela armou,

Saiu para resolver.

Gabriela foi andando.

E as mentiras que ela achava

Na sacola ia guardando.

Mas cada vez mais mentiras

O vento ia carregando...

Gabriela encheu sacola,

Bolsa de fecho de mola,

Mala, malinha, maleta.

E quanto mais ia enchendo,

Mais mentiras ia vendo,

Voando, entrando nas casas,

Como se tivessem asas,

Como se fossem - que coisa!

- um milhão de borboletas!

Gabriela então chegou

No começo de uma praça.

E quando olhou para cima

Não achou a menor graça!

Percebeu - calamidade!

- que a mentira que ela disse

cobria toda a cidade!

Gabriela era levada,

Era esperta, era ladina,

Mas, no fundo, Gabriela

Ainda era uma menina.

Quando viu a trapalhada

Que ela conseguiu fazer,

Foi ficando apavorada,

Sentou-se numa calçada,

Botou a boca no mundo,

Num desespero profundo...

Todo mundo em volta dela

Perguntava o que é que havia.

Por que chora Gabriela?

Por que toda esta agonia?

Gabriela olhou pro céu

E renovou a aflição.

E gritou com toda força

Que tinha no seu pulmão:

- Foi mentira!

- Foi mentira!

Com as palavras da menina

Uma nuvem se formou,

Lá no alto, muito escura,

Que logo se desmanchou.

Caiu em forma de chuva

E as mentiras lavou.

Mas mesmo depois do caso

Que eu acabei de contar,

Até hoje Gabriela

Vive sempre a procurar.

De vez em quando ela encontra

Um pedaço de mentira.

Então recolhe depressa,

Antes dela se espalhar.

Porque é como eu lhes dizia.

As coisas que a gente fala

Saem da boca da gente

E vão voando, voando,

Correndo sempre pra frente.

Sejam palavras bonitas

Ou sejam palavras feias;

Sejam mentira ou verdade

Ou sejam verdades meias;

São sempre muito importantes

As coisas que a gente fala.

Aliás, também têm força

As coisas que a gente cala.

Ás vezes, importam mais

Que as coisas que a gente fez...

"Mas isso é uma outra história

que fica pra uma outra vez..."



Bom Dia, Todas as Cores!



Meu amigo Camaleão acordou de bom humor.

- Bom dia, sol, bom dia, flores,

bom dia, todas as cores!

Lavou o rosto numa folha

Cheia de orvalho, mudou sua cor

Para a cor-de-rosa, que ele achava

A mais bonita de todas, e saiu para

O sol, contente da vida.

Meu amigo Camaleão estava feliz

Porque tinha chegado a primavera.

E o sol, finalmente, depois de

Um inverno longo e frio, brilhava,

Alegre, no céu.

- Eu hoje estou de bem com a vida

- Ele disse. - quero ser bonzinho

Pra todo mundo...

Logo que saiu de casa,

O Camaleão encontrou

O professor pernilongo.

O professor pernilongo toca

Violino na orquestra

Do Teatro Florestal.

- Bom dia, professor!

Como vai o senhor?

- Bom dia, Camaleão!

Mas o que é isso, meu irmão?

Por que é que mudou de cor?

Essa cor não lhe cai bem...

Olhe para o azul do céu.

Por que não fica azul também?

O Camaleão,

Amável como ele era,

Resolveu ficar azul

Como o céu da primavera...

Até que numa clareira

O Camaleão encontrou

O sabiá-laranjeira:

- Meu amigo Camaleão,

Muito bom dia e você!

Mas que cor é essa agora?

O amigo está azul por quê?

E o sabiá explicou

Que a cor mais linda do mundo

Era a cor alaranjada,

Cor de laranja, dourada.

Nosso amigo, bem depressa,

Resolveu mudar de cor.

Ficou logo alaranjado,

Louro, laranja, dourado.

E cantando, alegremente,

Lá se foi, ainda contente...

Na pracinha da floresta,

Saindo da capelinha,

Vinha o senhor louva-a-deus,

Mais a família inteirinha.

Ele é um senhor muito sério,

Que não gosta de gracinha.

- bom dia, Camaleão!

Que cor mais escandalosa!

Parece até fantasia

Pra baile de carnaval...

Você devia arranjar

Uma cor mais natural...

Veja o verde da folhagem...

Veja o verde da campina...

Você devia fazer

O que a natureza ensina.

É claro que o nosso amigo

Resolveu mudar de cor.

Ficou logo bem verdinho.

E foi pelo seu caminho...

Vocês agora já sabem como era o Camaleão.

Bastava que alguém falasse, mudava de opinião.

Ficava roxo, amarelo, ficava cor-de-pavão.

Ficava de toda cor. Não sabia dizer NÃO.

Por isso, naquele dia, cada vez que

Se encontrava com algum de seus amigos,

E que o amigo estranhava a cor com que ele estava...

Adivinha o que fazia o nosso Camaleão.

Pois ele logo mudava, mudava para outro tom...

Mudou de rosa para azul.

De azul para alaranjado.

De laranja para verde.

De verde para encarnado.

Mudou de preto para branco.

De branco virou roxinho.

De roxo para amarelo.

E até para cor de vinho...

Quando o sol começou a se pôr no horizonte,

Camaleão resolveu voltar para casa.

Estava cansado do longo passeio

E mais cansado ainda de tanto

mudar de cor.

Entrou na sua casinha.

Deitou para descansar.

E lá ficou a pensar:

- Por mais que a gente se esforce,

Não pode agradar a todos.

Alguns gostam de farofa.

Outros preferem farelo...

Uns querem comer maçã.

Outros preferem marmelo...

Tem quem goste de sapato.

Tem quem goste de chinelo...

E se não fossem os gostos,

Que seria do amarelo?

Por isso, no outro dia, Camaleão levantou-se

Bem cedinho.

- Bom dia, sol, bom dia, flores,

Bom dia, todas as cores!

Lavou o rosto numa folha

Cheia de orvalho,

Mudou sua cor para

A cor-de-rosa, que ele

Achava a mais bonita

De todas, e saiu para

O sol, contente

Da vida.

Logo que saiu, Camaleão encontrou o sapo cururu,

Que é cantor de sucesso na Rádio Jovem Floresta.

- Bom dia, meu caro sapo! Que dia mais lindo, não?

- Muito bom dia, amigo Camaleão!

Mais que cor mais engraçada,

Antiga, tão desbotada...

Por que é que você não usa

Uma cor mais avançada?

O Camaleão sorriu e disse para o seu amigo:

- Eu uso as cores que eu gosto,

E com isso faço bem.

Eu gosto dos bons conselhos,

Mas faço o que me convém.

Quem não agrada a si mesmo,

Não pode agradar ninguém...

E assim aconteceu

O que acabei de contar.

Se gostaram, muito bem!

Se não gostaram, AZAR!



Como se Fosse Dinheiro



Todos os dias Catapimba levava dinheiro para escola para comprar o lanche.
Chegava no bar, comprava um sanduíche e pagava seu Lucas.
Mas seu Lucas nunca tinha troco.
Um dia, Catapimba reclamou de seu Lucas:
- Seu Lucas, eu não quero bala, quero meu troco em dinheiro.
- Ora, menino, eu não tenho troco. Que é que eu posso fazer?
- Ah, eu não sei! Só sei que quero meu troco em dinheiro!
- Ora, bala é como se fossa dinheiro, menino? Ora essa...
Catapimba ainda insistiu umas duas ou três vezes.
A resposta era sempre a mesma:
- Ora, menino, bala é como se fosse dinheiro... Então, leve um chiclete, se não gosta de bala.
Ai, Catapimba resolveu dar um jeito.
No dia seguinte, apareceu com um embrulhão de baixo do braço. Os colegas queriam saber o que era. Catapimba ria e respondia;
- Na hora do recreio, vocês vão ver...
E, na hora do recreio, todo mundo viu.
Catapimba comprou o seu lanche. Na hora de pagar, abriu o embrulho. E tirou de dentro... uma galinha.
Botou a galinha em cima do balcão.
- Que é isso, menino? - perguntou seu Lucas.
- É pra pagar o sanduíche, seu Lucas. Galinha é como se fosse dinheiro... o senhor pode me dar troco, por favor?
Os meninos estavam esperando para ver o que seu Lucas ia fazer.
Seu Lucas ficou um tempão parado, pensando...
Aí colocou uma moedas no balcão:
- Está aí seu troco, menino!
E pegou a galinha, para acabar com a confusão.
No dia seguinte, todas as crianças apareceram com embrulhos debaixo do braço.
No recreio, todo mundo foi comprar lanche.
Na hora de pagar...
Teve gente que queria pagar com raquete de pingue-pongue, com papagaio de papel, com vidro de cola, com geléia de jabuticaba...
O Armandinho quis pagar um sanduíche de mortadela com o sanduíche de goiabada que ele tinha levado...
Teve gente que também levou galinha, pato, peru...
E, quando seu Lucas reclamava, a resposta era sempre a mesma;
- Ué, seu Lucas, é como se fosse dinheiro...
Mas seu Lucas ficou chateado mesmo quando apareceu o Caloca puxando um bode.
Aí, seu Lucas correu e chamou a diretora.
Dona Júlia veio e contaram pra ela o que estava acontecendo.
E sabe o que ela achou?
Pois achou que as crianças tinham razão..
- Sabe, seu Lucas - ela falou -, bode não é como se fosse dinheiro. Galinha também não é. Até aí o senhor tem razão. Mas bala também não é como se fosse dinheiro muito menos chiclete.
Seu Lucas se desculpava:
- É, mas eu não tive troco?
- Aí, o senhor anota, e no outro dia paga.
Os meninos fizeram uma festa, deram pique-pique pra dona Júlia e tudo.
Naquele dia, nem houve mais aula.
Mas o melhor de tudo é que todos do bairro ficaram sabendo do caso.
E, agora, seu Pedro da farmácia não dá mais compridos de troco, seu Ângelo do mercado não dá mais mercadoria como se fosse dinheiro.
Afinal, ninguém quer receber um bode em pagamento, como se fosse dinheiro. É, ou não é?









































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